quinta-feira, 18 de setembro de 2008


Realmente... sei lá, quando aprendi da parada, tiraram-na de mim. Quando passei a sentar no sofá, me deram um tamborete pra ficar mais longe do centro. Me seccionaram entre os que têm e os que não têm: fiquei sem nada novamente. Quem fez isso? Quem teve essa brilhante idéia? Um quarentão e seu partido de truculentos? Talvez os mesmos que gerenciam o mercado da desinformação formal, tornando a América do Sul mais e mais abucéfala, onde tudo custa mais caro: livros e discos, cinema e teatro. A despeito disso, o movimento “re”- evolucionário das marés não se interrompe. Temos vários outros estudantes, abnegados, alcoólotras e desordeiros – como devem imaginar tais senhores – nas linhas de frente do invisível nos alimentando. "The tide is low", disse Jane. Mas eu não escuto Jane, e sigo em frente farejando e mexendo. Compartilhamento não é crime. Tudo não passa de hermenêutica jurídica, mas a justiça é uma mulher cega de um olho só por estas bandas – a sua carteira ela enxerga. Como enxergaram também uma afronta na, talvez a mais humana de todas, atitude solidária que o Som Ba... som o quê mesmo? Barato!? Mas era de graça! Ninguém estava lucrando nada, a não ser noites mal dormidas e diversão informativa. E se o Ministério Público interviesse com uma medida de valores pela propagação do som no ar que nós respiramos, como não fazem com as rádios novas (Por que só as rádios piratas ou livres derrubam avião?) que nos entopem de bê-á-bá, quando o que queremos mesmo são frases inteiras, novas sintaxes, semânticas atraentes, outras obras filosóficas, outros olhares..? Mas como, aqui!? Aqui, isso da forma solidária de atuação, do compartilhamento de informação, isso é um saqueio! O vinil nunca acabou lá fora. Quem gosta, e quem, antes de poder comprar, quiser comprar, fará isso, com ou sem “torrents”. Porém ainda voga este conceito apodrecido neste rincão do sul, ainda há a prevalência do poder ante a vontade. Tem lugares no mundo onde o sujeito chega e compra a obra de Hesse, por exemplo, pelo que gastamos num lanche da McDonald’s sem a conversão. Aqui, precisamos fazer contas. Precisamos nos equivocar. É natural. O mercado fonográfico é como uma partida de futebol onde o juiz aponta para a bola num determinado ponto do campo, mas os dois times estão imóveis sem saber o que ele marcou... esse é o quadro. Simples assim. É a mudança de mercado. Acontece. No entanto, o que nunca mudou foi a sede de conhecer da humanidade, em qualquer cú de mundo. Essa, não! Essa é foda! Saca o polinésio que se perdeu no mar e foi bater na Patagônia, né? Apôis! Vou dormir hoje por aqui sem baixar o novo cd de Zeca Baleiro. Acho que vou ao show, já fui a alguns dele. O cd, disseram-me, está bem interessante. Quanto aos incautos que tiraram meu sofá do lugar, pérolas aos porcos! Podem beber uísque em seus flats de luxo, suas horas chegarão. Em algum momento “the tide will be high again”. Esse é o movimento do mundo, da gênese, e até agora temo-nos como irresistível. Contrai aqui, expande ali, numa esquina qualquer ou numa escola pública caindo aos pedaços. Seus filhos poderão ou não sentir vergonha. Nós, que fazíamos uso daquela sala de aula, a temos conosco... vou cagar agora esperando a água tocar meu pés outra vez.

14 comentários:

flavia disse...

chorei
=~

Jr. Black disse...

Do not, babe... do not...

neco tabosa disse...

o esporro é todo bom.

mas, na minha opinião, é a frase final que não deixa dúvidas de que esse É um texto de protesto!

c.nrjara disse...

Lamentei.

Acho que devemos realmente nos preocupar com toda essa discussão sobre compartilhamento de músicas na rede. Mais uma vez, tentam nos vender a desinformação formal... como vc disse.

Jr. Black disse...

É bom a sociedade se organizar sempre, mas com esse esquema político vigente, o negócio é um trabalho para vingar para outras gerações. Uma atitude como esta claramente fere os direitos individuais de qualquer cidadão, o direito de dispor de um bem que é seu. Enquanto o Direito da Informática engatinha, eles vão julgando conforme lhes for monetariamente conveniente, óbvio. Isso significa que você pode comprar qualquer bem, mas de alguns você não pode dispor, o que arromba o oiti do conceito de propriedade, saca? É meu e eu quero passar adiante, porra! De graça, porra!

quilombra dos palmares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jr. Black disse...

Eu não excluí comentário algum, hein!?

quilombra dos palmares disse...

Continuemos Odeon-do tudo que esmaga a liberdade individual. Mostremos a verdadeira dita..dura aos engravatados que subjulgam a guerrilha. A história se repete ao longo dos anos e os vilões são os mesmos, só muda o wallpaper.
O conformismo atrofia a coluna cervical e esquarteja a dignidade de todos nós, terroristas em potência.
Chegou a hora de submergir o status quo que o tão querida Hakim Bey chama de TAZ(zona autônoma temporária). One bomb per child, at least.

quilombra dos palmares disse...

"...desta vez, no entanto, eu venho como o vitorioso Dionísio, que transformará o mundo numa festa... Não que eu tenha muito tempo..."

Nietzsche (em sua última carta "insana" a Cosima Wagner)

quilombra dos palmares disse...

black, pelo amor de deus, no próximo show, vista a maldita bata de padre..

quilombra dos palmares disse...

REPUDIE os exploradores da fé popular! Diga NÃO às igrejas de pedra! O REINO DE DEUS ESTÁ DENTRO DE VOCÊ!

Unknown disse...

Poxa, que desbaratinada essa agora... Fiquei muito puta da vida de ver a bostalha q fizeram com o sitezinho q eu amava tanto. Grrrrr!
Pensando em tudo isso aí, resolvi compartilhar com vcs um texto muito interessante q vem norteando os trabalhos dos cineclubistas pelo mundo afora e q, de toda forma, tem tudo a ver com o momento do som barato. Chama-se "A carta de Tabor" e é um manifesto pelos "Direitos do Público", vejam com seus próprios olhinhos, aqui: http://samadeu.blogspot.com/2008/07/carta-dos-direitos-do-pblico.html
ou aqui:
http://www.cineclubes.org.br/direitosdopublico/

Há também muita discussão interessante sobre o assunto aqui:
http://www.cultura.gov.br/blogs/direito_autoral/?cat=3

Felipe Simoes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Felipe Simoes disse...

Jorge Ben, Moacir Santos, Chico Science e a grande Nacao Zumbi, Mestre Salu, Tim Maia, Cartola, China, Mobojo, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Nara Leao, Maracatu, bossa, samba, reggae, hip hop, mangue beat, e muito mais. Isso nenhum engravatado pode apagar. A arte, a musica, a cultura brasileira. Nossa riqueza real. Um grande Salve ao som barato por difundir tudo isso e muito mais. O tempo dira quem estava com a razao.

E esse alguem, meus amigos,
Somos nos!